Tudo bom com vocês? Espero que sim! Muitos sons vêm até mim ultimamente e a oportunidade de compartilhar sempre é enorme!

Nossa coluna vai falar hoje sobre algo completamente antagônico ao cenário musical que vem tomando conta do Brasil nos últimos anos. A MPB clássica. Digo isso, porque o mercado tem fechado as portas para esse som, a não ser quando feito pelos grandes artistas que o consagraram, ou por algumas poucas cantoras, que não recebem o devido crédito. Nunca pensei que fosse ter que garimpas tanto para encontrar remanescentes da clássica MPB, mas fazendo jus à proposta do nosso site, lá fui eu!


Acabou sendo um garimpo de verdade, porque me deparei com este artista muito sem querer, não acreditando que esse acaso pudesse ser, em tantas formas, frutífero.

O artista em questão é Fabio Cadore. Compositor, cantor, violonista e uma pessoa simples e extremamente dadivosa. Aos 13 anos já integrava uma camerata de violões com repertório erudito, de onde certamente extraiu muito material para suas composições. Grava seu primeiro disco em 2008, “Lúdico Navegante”, onde as influências da clássica MPB e do Jazz são muito fortes, com uma formação instrumental clássica calçada no trio piano, baixo e bateria, além do violão do Fabio.

Arranjos de cordas e metais também surgem nos levando àquela sensação boa de que existe na nova geração alguns que se preocupam com a nossa cultura e tudo o que ela já produziu. Nesse primeiro trabalho, surpreende a complexidade de suas letras, não como um exercício mental e sim uma preocupação com a força da poesia.

Com esse disco Fabio se projeta no exterior onde participa de discos de artistas da Espanha e Dinamarca, além de participar de festivais de jazz importantes da Europa e Ásia.

m 2012 lança seu segundo trabalho, “Instante” onde já mostra uma maturidade tanto como compositor como cantor. As influências adquiridas ao longo dos anos anteriores viajando pelo mundo afora deram lastro a este trabalho. Fabio não se intimida ao colocar refrões e harmonias tensas e complexas lado a lado.

Essa mescla cria um ambiente interessante e próprio, já denotando uma personalidade musical, mostrando que ele sabe o que quer.

Num país que exerce uma benevolência quase cega com as cantoras, encontrar um cantor dono de uma voz linda e suave, de timbre único que compõe muito bem com suas escolhas artísticas e com um potencial como o do Fabio, é algo maravilhoso.

Uma coisa bastante curiosa sobre suas composições é o quão versáteis elas podem ser. Quando o conheci, estávamos no estúdio do Otávio de Moraes, meu produtor há 18 anos e que trabalha há muito tempo em trilhas para publicidade e havia comentado comigo sobre o Fabio, que gravara uma trilha para ele e havia mostrado algumas composições que valeriam à pena serem escutadas. Eram composições de seu trabalhos já gravados anteriormente.

Pessoalmente foi interessante ver a figura do Fabio: fala tranquila, certa timidez, e ao ouvir seu trabalho, um susto. O som não batia com a imagem!

Aproveitando a ocasião, pedi algumas composições para o Fabio, por conta do novo projeto que eu começara a selecionar canções, e eis que surge a surpresa: ele me manda várias composições de imediato, algo raro em compositores de hoje em dia. Dentre essas composições, uma me chamou muito a atenção: “De Peito Aberto”. Um tanto folk, um tanto POP, um tanto intensa, adorei! Escolhi para meu próximo álbum, mas a canção carecia de um pouco mais de história, um pouco mais de letra.

omprovando a versatilidade de suas canções, optamos por um arranjo mais eletrônico e tendendo ao POP/ROCK, por uma vontade antiga de me inserir neste contexto, mas até então não tinha uma canção que eu pudesse explorar essas características. Em breve poderei mostrar o resultado.

Em 2015, Fabio Cadore lança o CD “Acto 1” em parceria com o pianista argentino Hernan Jacinto, um disco extremamente bem feito e bem tocado, com composições de ambos e gravado entre São Paulo e Buenos Aires. Fabio e Hernan subiram ao palco pela primeira vez em 2010 num café-teatro em Palermo, Buenos Aires e ali surgiu uma interessante parceria.

O CD vem novamente brindar-nos com a bela mistura de MPB e Jazz. Eu destacaria a bela “Gaviota” (em espanhol, mesmo!).

abio me confidenciou que “Acto 2” está no forno, o que me faz pensar que mais coisa boa vem por aí.

Eu e a música brasileira só temos a agradecer a este compositor corajoso e empreendedor da arte.

Pedro Mariano
Cantor, músico e produtor musical, tem 20 anos de carreira e 9 discos lançados, além de ter participado de inúmeros projetos. Filho de Elis Regina e Cesar Camargo Mariano, a música sempre fez parte de sua vida. Apaixonado pelo que faz, acredita que levar cultura a todas as pessoas, pode transformar suas vidas.